A carga horária dos estudantes da rede estadual será
ampliada em 200 horas, passando de 800 h/ano para 1 mil h/ano.
A mudança, que
será implantada a partir de 2020, está prevista na Lei nº 13.415/2017 que
alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e estabeleceu uma
mudança na estrutura do ensino médio em todo o país.
É nisso que aposta a
Secretaria Estadual da Educação (SEC) como estratégia para tentar melhorar o
desempenho do Ensino Médio na Bahia e vai representar, diariamente, uma hora a mais
dos jovens na escola.
O subsecretário da
Educação, Danilo Souza, diz que os detalhes dessa mudança estão em discussão e
que, por isso, ainda não está definido se essa hora a mais será no começo ou no
final das aulas. A inspiração para a mudança, explica ele, surgiu analisando
outros países.
“Percebemos que nos países que têm resultados melhores no
ensino, os estudantes passam mais tempo na escola, existem mais horas de
estudo. As questões ainda estão sendo discutidas porque precisamos levar em
consideração diversos fatores. Isso está sendo feito no âmbito da Secretaria e
será feito também nas escolas”, afirma.
O prazo para a conclusão do estudo é novembro deste ano e
não está descartada a possibilidade de contratar mais professores. Os
especialistas, porém, veem a medida com desconfiança e defendem que é preciso
avaliar as alterações com cuidado antes de tomar uma decisão.
Para a doutora em Educação e professora da Universidade do
Estado da Bahia (Uneb), Rosemary Oliveira, mais do que a ampliação da carga
horária, é preciso que haja uma mudança na formulação das aulas.
“O problema da educação no Brasil é estrutural. A gente pode
falar do Ensino Médio, mas ele vem desde como a gente pensa o que é a educação
e a importância dela. Precisamos de investimento de verdade, capacitar os
professores e repensar como essas disciplinas estão sendo trabalhadas nas
escolas”, pondera.
Ela afirma que as pesquisas mostram também que falta
criticidade nos estudantes brasileiros, mas acredita que esse déficit é
provocado pelo excesso de conteúdo que precisa ser trabalhado em sala de aula.
Ela defende que os estudantes devem passar mais tempo em sala, mas fez algumas
considerações:
“O certo seria que os alunos ficassem o dia inteiro na
escola, então, essa ampliação poderia ajudar nesse sentido, mas como é que vai
ser distribuído esse tempo? Os professores que estarão essa 1h a mais vão usar
dos mesmos métodos de ensino? O que eu tenho visto dessa ampliação é formação
para empreendedorismo”, acrescenta.
O baixo desempenho do Ensino Médio na Bahia consta no Anuário
da Educação divulgado anteontem, pelo movimento Todos pela Educação, em
parceria com a Editora Moderna. O levantamento mostrou que apenas 4,7% dos
estudantes desse ciclo de ensino têm proficiência adequada em Matemática.
Segundo o Todos Pela Educação, o número de professores não
licenciados em exatas e que lecionam Matemática ainda é significativo, e isso
reflete na aprendizagem dos estudantes. Procurada, a assessoria da SEC não
informou o número exato de estudantes, nem de professores licenciados em Matemática
nas escolas estaduais.
O Anuário traz também que a Bahia é o 5º estado que menos
investe por estudante, são cerca de R$ 3 mil por aluno. A SEC informou que o
aporte financeiro por aluno é menor na Bahia na comparação com outros estados
por conta da quantidade de estudantes, o que diminui o investimento per capita
(por pessoa).
A professora de pedagogia da Rede FTC Camila Bianca Chagas,
que também leciona em escolas públicas, atribui o resultado pífio do ensino
médio à falta de estrutura das escolas. E enfatiza que a deficiência no
aprendizado aparece no ensino superior e reflete no mercado de trabalho.
“Em muitas escolas falta material de trabalho e as condições
são precárias. Isso desestimula os estudantes e reflete no desempenho e, mais
tarde, nos profissionais. Não adianta manter 40 alunos em uma sala sem
ventilador por mais uma hora, porque o aproveitamento será comprometido. A
questão é o que vai ser oferecido ao estudante nessa 1h a mais, além de conteúdo
programado”, defende.
Problemas
Apesar da quantidade de conteúdo das disciplinas de Língua
Portuguesa e Matemática ser extensa, as queixas dos estudantes geralmente são
as mesmas, segundo os professores. Na área da Matemática: análises
combinatórias, trigonometria e geometria plana fazem os futuros profissionais
queimarem os neurônios. Sobra reclamação também para algoritmos e funções.
Já em Português, é a gramática que tira os estudantes do
sério, principalmente, a área de sintaxe e análise linguística. Produção
textual também é um problema para as turmas do ensino médio.O desempenho em
Português é um pouco melhor – 18,4% dis baianos no ensino médio dominam conteúdos da disciplina.
Manoela Oliveira, 16, é estudante do 1º ano, no Instituto
Federal da Bahia (Ifba) e conta que Matemática é o principal desafio. Ela
gostou de saber da proposta de ampliação do horário dos estudos em uma hora,
anunciada pela SEC – embora a medida não se aplica para a instituição onde
estuda.
“Em geral, acho que essas horas a mais serão uma ótima
iniciativa porque a maioria dos estudantes tem dificuldade nessas duas matérias
e iria ajudá-los a aumentar o nível de desenvolvimento das notas e também
ajudar na preparação do Enem”, opina.
Já o amigo de Manoela, Bruno Henrique, 17, está no 2º ano,
também no Ifba, e é outro que defende a dedicação de mais tempo aos estudos.
“Creio que seja bom, principalmente na área de Português, que no ensino médio a
gente não tem tanto apoio. Essa uma hora a mais poderia influenciar numa
melhora significativa. E já pensando na redação do Enem, esse reforço é válido
para ajudar os alunos a não terem dificuldade e não zerarem a prova. Até então
eu não tenho tanta dificuldade nessas matérias”, afirmou.
Prazo final é 2025
A Bahia tem até 2025 para implantar a 1h mais em todo o
Ensino Médio. A medida atende à determinação do Governo Federal, por meio da
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) nº 13.415 de 2017, para a implementação do Novo
Ensino Médio e cumprimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ela vale
para todo o país. A mudança valerá a
partir de 2020 para todos os Estados e tem o objetivo de melhorar o desempenho
dos estudantes, ofertando itinerários em áreas de conhecimento. Esta alteração
está sendo discutida em todo o Brasil, e na Bahia acontece desde 2017. O
propósito é identificar a melhor maneira de aproveitar essa 1h a mais no
currículo escolar.
Veja dicas de como aprender
Português e Matemática
Leitura extra – Ler é fundamental para aprender Português e
Matemática. Peça a um professor indicações de livros.
Tema eleito – Descubra um assunto que você gosta e leia
sobre ele em revistas, jornais e sites.
Texto fácil – A dica para melhorar o desempenho em redação é
escrever um texto por semana sobre temas diversos, para exercitar a fluência
verbal.
Exercícios – Fazer exercícios em casa, respondendo questões
de Matemática e Português, ajuda a assimilar conteúdos dessas duas disciplinas.
Videoaula – Assista vídeos, palestras e filmes recomendados
pelos professores e relacionados aos conteúdos que são trabalhados em aula.
(Correios)
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