segunda-feira, 31 de maio de 2021

Golpe do Pix cresce na Bahia e casos preocupam autoridades

O golpe do Pix tá aí e muita gente, sem querer, está se tornando vítima de criminosos. Foi só a novidade do mercado financeiro surgir que os golpistas aproveitaram para utilizá-la como mais uma forma de praticar furtos. 

Camila Dorea de Jesus, nora da assistente financeiro Rose Alves, 42 anos, perdeu mais de R$ 9,5 mil nessa história. O dinheiro era para comprar uma casa.

E ela não foi a única vítima: segundo a Secretaria de Segurança Pública da Bahia, os crimes cibernéticos triplicaram no estado em 2020, com relação a 2019, saltando de 119 para 313. 

E eles continuam acontecendo. Camila, por exemplo, foi vítima em 2021. Segundo Rose, o golpe contra a nora ocorreu em 21 de abril, por volta das 16h.

“Alguém acessou a conta dela e, de início, fez um Pix no valor de quase R$ 5 mil. Ela viu a mensagem, correu para tirar o restante do dinheiro da conta e, quando entrou no aplicativo, viu que eles já tinham tirado todo o resto”, lamenta. Até agora, a família não sabe como a transação foi feita.

“Ela fez um boletim de ocorrência e foi até a agência para ouvir o gerente dizer que não era com ele. Depois, passaram um número interno para ela fazer a denúncia e eles agendaram um horário para ela voltar para a mesma agência e falar com o mesmo gerente”, conta.

De acordo com Rose, na segunda passada, o banco negou a possibilidade de ressarcir o valor. “Já entramos numa causa judicial contra o banco, pois foi muito sofrimento para eles juntarem esse dinheiro. Não foi algo da noite pro dia não. Eles ralaram muito”, completa a assistente financeiro.

Já do advogado Antônio Sedraz de Almeida Junior, 32, foram roubados R$ 1 mil. Também sem saber como, o valor foi transferido da sua conta Nubank para a de um desconhecido. O crime ocorreu em 6 de maio, às 13h36. “Estava em casa tranquilo e, do nada, recebi a notificação no celular dizendo que tinha feito uma transferência desse valor. Três minutos depois, eu entrei em contato com a Nubank, que disse não poder fazer nada, pois a transação teria sido feita, segundo eles, do meu celular e da minha senha. Isso não é verdade”, lamenta o advogado.

Antônio fez um Boletim de Ocorrência na 11ª Delegacia de Polícia Civil, em Tancredo Neves. “Por coincidência, no dia em que roubaram os R$ 1 mil, tinha feito três transferências tirando dinheiro da conta da Nubank e liguei para o banco para solicitar o cancelamento da compra por aproximação, mas não tenho a mínima ideia de como o crime aconteceu, pois o telefone estava no meu bolso”, disse.

Em nota, a Policia Civil disse que a investigação está em andamento e que, no momento, não dispõe de detalhes da apuração. Já o Nubank afirmou que o pedido do cliente foi analisado por duas instâncias de atendimento, com retorno e comunicações sobre os fatos por meio do SAC e da Ouvidoria.

“Para preservar o sigilo bancário do cliente, se ainda houver qualquer dúvida, recomendamos que ele entre em contato com a nossa equipe de atendimento via chat, e-mail, telefone ou redes sociais, 24 horas por dia e em qualquer dia da semana”, diz nota oficial.

Como acontecem?

De acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), as tentativas de fraudes registradas com o Pix foram identificadas como os chamados ataques de phishing. Tratam-se de técnicas de engenharia social que consistem em enganar o indivíduo para que ele forneça informações confidenciais, como senhas e números de cartões.

Foi isso que quase aconteceu com a comerciante Rosimeire da Silva, 42, moradora de Cajazeiras. Ela recebeu um e-mail do banco que informava a chegada de uma transferência Pix de cerca de R$ 2 mil. Como ela é comerciante e trabalha com esse formato de transferência, não suspeitou, a princípio.

“No e-mail tinham todos os detalhes do banco e o link que dizia para eu clicar e visualizar minha conta”, lembra. Rosimeire clicou no link, mas, quando foi pedido para ela digitar sua senha, desconfiou que poderia ser um golpe.

“Liguei para meu esposo e perguntei se ele tinha algum Pix pra receber nesse valor e ele disse que não tinha. Então, entrei no Google e vi vários alertas desse tipo de golpe. Fiquei com medo de alguém ter roubado meus dados”, diz.  

Escolha do formato

A escolha dos bandidos pelo Pix para os golpes é explicada pela facilidade em ser realizada a transferência. O valor cai na conta de destino em até 10 segundos, independente do dia ou horário que foi feita a transação.

Segundo o Banco Central, 75 milhões de brasileiros já usaram o Pix para transferir ou receber dinheiro desde novembro de 2020, quando o serviço foi lançado. Em abril, a quantidade de Pix superou a de Transferências Eletrônicas Disponíveis e Documentos de Crédito somados.

“Os bancos estão usando toda sua expertise com todos os sistemas de pagamentos, como TED e DOC, transferências, boletos, e agora para o Pix. Para isso, conta com as melhores tecnologias e o que há de mais moderno em relação à segurança cibernética e prevenção a fraudes”, defende a Febraban. Segundo a instituição, R$ 24,6 bilhões são investidos anualmente em tecnologia pelos bancos.

De acordo com o delegado Delmar Bitencourt, especialista em crimes cibernéticos e responsável pelo Laboratório de Inteligência Cibernética da Polícia Civil da Bahia, os golpes envolvendo o Pix estão se tornando comuns no estado.

“O que acontece é a pessoa perder a conta, entregar ao bandido, e ele faz o Pix para transferir o valor. Também tem o caso de alguém se passar por outra pessoa e induzir o contato a fazer uma transferência por Pix”, diz.

A técnica em eletrotécnica Talita Gonçalves, 21, viveu uma situação curiosa. Pelo Instagram, ela teve acesso ao perfil de Alessandra Menezes, que alegava passar por dificuldades financeiras e pedia doação de R$ 1.

Sensibilizada, Talita fez o Pix. Depois, descobriu que se tratava de um perfil fake. “O problema não foi o valor e sim que eu saí compartilhando as publicações para poder ajudá-la”, lamenta. *CORREIO

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