“Onde tá a mãe?”, perguntou Fernando Biz a uma das filhas
logo no amanhecer da última terça (19), ao dar pela falta da mulher, Delinda,
sua companheira dos últimos 63 anos na casa que dividiam em Araranguá, no Sul
de Santa Catarina.
Aos 82 anos, com Alzheimer e marca-passo, Fernando foi
poupado de saber que a mulher havia sido internada na noite anterior, após
sentir dores no peito.
“A mãe foi tomar umas vitaminas, pode dormir descansado,
que daqui a pouco ela tá boa”, disseram. Fernando tomou café, pediu uma blusa e
voltou para a cama. Pouco depois das 7h, a filha foi até o quarto levar os
remédios, mas Fernando já não vivia mais.
Seis horas mais tarde, chegava do
hospital a notícia: Delinda Biz, 86 anos, também havia morrido.
Um não soube do outro:
Já com a saúde debilitada, os dois há alguns anos viviam sob
os cuidados de uma filha. A notícia da morte do casal, no mesmo dia, sem que um
soubesse do outro, foi um baque para a família – são dez filhos, 23 netos, 17
bisnetos e uma tataraneta. Mesmo para quem já havia presenciado a avó dizer,
mais de uma vez, que eles iriam “embora juntos”.
“Nos últimos meses a gente chegava e dizia: mas que ‘nona’
forte! E ela dizia: ‘nós estamos bons agora, mas vamos embora juntinhos”, conta
uma das netas do casal, a gerente de franquias Greysian Biz, de 37 anos. “Ela
era muito sensata, sensitiva, via as coisas de longe”.
Não esqueceu da nona:
Nos últimos tempos, mesmo com os problemas de saúde, conta a
neta, o agricultor aposentado e a dona de casa ainda mantinham o carinho que os
uniu durante tanto tempo. Às vezes, a neta chegava e ele demorava um tempo para
reconhecer seu nome e seu rosto. “Mas a minha nona em momento algum ele
esqueceu. Ele podia esquecer de qualquer pessoa, menos dela."
Casal se conheceu em festa religiosa em zona rural no Sul de
SC (Foto: Arquivo Pessoal/Greysian Biz).
O casal foi velado na mesma capela. “Apesar de tudo, estamos
todos muito tranquilos por terem feito a passagem juntos.”
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário