O preço da carne bovina disparou nas últimas semanas. De
acordo com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em menos de três
meses, alguns cortes registraram alta acima de 50%, como o contrafilé.
Para o
coxão mole, a alta foi de 46% no custo do produto, que, consequentemente, foi
repassado ao consumidor final. Essa expressiva valorização se deve
principalmente à alta da arroba do boi gordo.
Para os pecuaristas, os preços atingiram os maiores valores
da história, com sucessivos recordes. Para se ter ideia, o preço saiu de R$
155,70 no início de setembro e atingiu R$ 231 nesta semana, segundo o Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
No entanto, há consultorias que
já relatam que a arroba do boi gordo atingiu R$ 235 em algumas regiões do país.
Exportações aquecidas
Um dos motivos que explicam a alta da carne bovina ao
consumidor final são as exportações aquecidas, principalmente para a China.
Isso ocorre porque o país asiático enfrenta um grave surto de peste suína
africana. A doença, que é altamente contagiosa em porcos e possui taxa de até
100% de mortalidade, já fez os criadores chineses abaterem cerca de 40% de seu
rebanho suíno, segundo o Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China.
Com isso, o país tem aumentado a procura por outros tipos de carnes do Brasil.
De acordo com a Associação Brasileira de Frigoríficos
(Abrafrigo), outro motivo que influenciou as exportações para a China foi a
habilitação de novos frigoríficos para exportar carne bovina in natura. Mais
recentemente, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, anunciou a
habilitação de 13 unidades brasileiras aptas a exportar carne bovina, suína e
de aves para os chineses. A expectativa da associação é de que as o aumento das
vendas de carne bovina fiquem acima dos 10% previstos pelo setor em 2019.
Pouca oferta de boi
Outro fator que influencia a alta da carne bovina é a pouca
oferta de boi. O Cepea afirma que, de modo geral, houve um alto número de abate
de vacas nos últimos anos. Com menos fêmeas no pasto, a oferta de bezerros e,
consequentemente, a de boi gordo nos dias de hoje foi prejudicada.
“Nesse sentido, a pecuária nacional vai ter que responder
com aumento de produtividade para conseguir atender à crescente demanda por
novos animais para abate, tendo em vista que o abate de vacas atingiu volumes
recordes nos primeiros meses deste ano”, informa o centro de estudos.
Festas de fim de ano
Aqui no Brasil, apesar do desemprego e da economia ainda
estarem em ritmo de recuperação, as festas de fim de ano normalmente aquecem as
vendas de carne. Nessa época, é normal ter um aumento na comercialização do
produto, quando os atacadistas se abastecem, à espera de aumento na procura por
carne. O pagamento do 13º salário à população também ajuda a movimentar esse
mercado.
Impactos
Alguns frigoríficos já alertam que essa alta da carne bovina
pode trazer impactos profundos ao consumidor final. Segundo o diretor
financeiro do frigorífico Minerva, Edson Ticler, o incremento no preço do
produto poderia impactar em aproximadamente quatro ou cinco pontos a base do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial. Ele
afirma que há também potencial de repasse de 40% da alta aos consumidores.
“Isso deve acontecer porque as redes varejistas já têm
segurado os preços das carnes nos últimos três anos devido à situação econômica
do país”, comenta Ticler.
A consultoria Safras & Mercado ressalta que há dúvidas
se o consumidor conseguirá absorver esses reajustes de preços. A expectativa é
de que o comprador opte por outras proteínas mais acessíveis, como a carne de
frango.
Há risco de faltar
carne?
De acordo com a associação de supermercados, não há risco
para falta de carne bovina ao consumidor brasileiro. A própria ministra da
Agricultura já levantou a hipótese de o Brasil importar carne bovina de outros
países para manter o mercado interno abastecido. Atualmente, o Brasil já compra
alguns cortes de fora, mas poderia ampliar esse volume, caso seja necessário.
Tendência
Alguns analistas afirmam que a disparada de preço da arroba
do boi gordo para os pecuaristas pode ter fim em janeiro. A Scot Consultoria
comenta que no começo o ano, o criador normalmente já está com a safra do boi
gordo e o consumo de carne bovina tende a cair por conta das férias escolares,
incidência de impostos, despesas escolares e contas do fim do ano.
“Devemos ver o que acontece em janeiro, que notoriamente é o
mês da ‘ressaca’ da carne”, alertou o presidente da empresa, Alcides Torres.
O Ministério da Agricultura também já se pronunciou sobre a
alta dos preços do boi gordo, dizendo que essa euforia dos pecuaristas pode
passar em breve. “A cadeia vive um momento de euforia, mas já, já esse mercado
vai se equilibrar. Os preços não serão os mesmos praticados há dois meses, mas,
com certeza, essa euforia não continua. É um momento de ajuste da carne
brasileira”, disse a ministra Tereza Cristina.
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