Um estudante da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) é
acusado pelos colegas de racismo após se negar a receber um documento das mãos
da professora. Em um vídeo que circula nas redes sociais, a docente diz: “Não
estou entendendo?”.
E o estudante, estático em frente à mesa, indica com o dedo
para que ela deixe o papel sobre a mesa, numa suposta recusa em pegar o
documento das mãos da professora. Segundo alunos do curso de Ciências Sociais
da UFRB, o colega de sala agiu dessa forma porque a docente é negra.
O vídeo foi gravado na noite de segunda-feira (9) no Centro
de Artes, Humanidades e Letras (CAHL) da UFRB, na cidade de Cachoeira, Recôncavo
baiano, e postado numa página do Instagram. A UFRB publicou uma nota afirmando
que uma comissão foi criada para apurar as denúncias.
A imagem, que circula nas redes sociais, mostra o aluno Danilo Araújo de Góis, de camisa amarela, de costas, em pé, conversando com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis. Na gravação, a reação da professora é de espanto. “Não estou entendendo?”, diz ela e o aluno argumenta em seguida - mas o conteúdo é inaudível.
Logo depois, a professora estende o braço e diz: “Tome o
papel”. E o aluno responde: “Papel na mesa”. A situação causou alvoroço na sala
por parte do restante da turma, que reprovava a atitude do colega de classe.
Em um segundo vídeo postado na mesma página, a professora
disse para a coordenadora do colegiado do curso de História, que precisou ser
acionada para ir à sala de aula, que se sentia desconfortável diante de toda a
situação, que o fato causou um tumulto na sala e por isso a permanência do
aluno impossibilitaria a continuidade da aula.
Então, a coordenadora do curso pediu para que o aluno
deixasse a sala e ele prontamente acatou. Os demais estudantes aplaudiram a
medida da coordenadora e gritaram “racista” à medida que o universitário se
aproximava da porta da sala.
Procurado pelo CORREIO, o vice-diretor do CAHL, Gabriel
Àvila, disse que o estudante ainda não foi ouvido. “A direção tem um limite de
atuação. Quem pode expulsar o aluno é a reitoria. A gente vai ouvir ele e a
professora para aplicarmos a medida cabível. A primeira suspensão já pode ser
aplicada, caso haja comprovação do fato. Ela é de 15 dias, após a denúncia ser
formalizada”, disse Àvila.
De acordo com ele, há 15 dias, o aluno já havia agido de
forma agressiva com a professora. “Ele discutiu por causa de uma data de
avalição. Foi muito agressivo com as palavras e a professora acabou cedendo.
Ele tem uma predileção a fazer crítica a essa professora. Os outros alunos já
tinham percebido o comportamento dele. A professora preferiu não levar adiante
porque não chegou a ofensas com caráter racial”, comentou Àvila.
O vice-diretor informou ainda que nunca chegou uma denúncia
em relação à conduta do aluno ao colegiado e à direção do CAHL, mas adiantou:
“Apesar disso, qualquer atitude racista, homofóbica e machista não é tolerável
no ambiente de ensino”.
O CORREIO não conseguiu contato com Danilo nem Cristina.
Segundo informações da Delegacia de Cachoeira, tanto o estudante quanto a
professora compareceram à unidade nesta terça-feira (10) para prestar queixa. A
professora e quatro testemunhas foram ouvidas e outras três pessoas intimadas
para prestarem depoimento, assim como o estudante, que deve ser ouvido na
quarta-feira (11).
Confira na íntegra a
nota da UFRB
"A Universidade
Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) manifesta veemente repúdio às atitudes
ofensivas do estudante do curso de Ciências Sociais, Danilo Araújo de Góis,
para com a professora Isabel Cristina Ferreira dos Reis e outros estudantes do
Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira. A instituição já
criou uma comissão para apurar as denúncias encaminhadas por estudantes e
professores do Centro, que informam ter presenciado reiteradas manifestações de
preconceito racial, de gênero e de homofobia por parte do estudante.
A UFRB informa que
está tomando as medidas administrativas e jurídicas cabíveis ao caso, de modo a
contribuir com a apuração dos fatos ocorridos na noite do dia 9 de dezembro, em
sala de aula, no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), em Cachoeira.
Após se recusar a receber uma avaliação das mãos da professora, o estudante foi
denunciado pelos presentes por ato de preconceito racial, conforme vídeo
veiculado em redes sociais.
Como instituição de
ensino superior comprometida com os valores democráticos, o respeito à diversidade
e implicada com os territórios de identidade em que está presente, a UFRB
rechaça todo e qualquer ato de racismo, sexismo, LGBTfobia, intolerância e/ou
violência, seja no âmbito acadêmico ou no cotidiano em geral.
A UFRB considera
fundamental ao processo formativo na graduação e na pós-graduação o respeito às
diferenças para constituir um ambiente de convívio saudável, sem discriminação.
Ao mesmo tempo, a instituição manifesta solidariedade à professora e estudantes
ofendidos no espaço da Universidade e reafirma seu compromisso em não deixar impunes
atitudes desta natureza.
Cruz das Almas, 10 de
dezembro de 2019.
Reitoria da UFRB"
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