Em 2020, o Brasil piorou sua posição no ranking anual de
países com maior impunidade em casos de homicídios de jornalistas. Segundo novo
relatório do Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), o país foi do nono
lugar, em 2019, ao oitavo, neste ano.
Com 15 assassinatos não solucionados de profissionais da imprensa na última década, o Brasil tem uma colocação pior que o Paquistão, Bangladesh e Rússia –respectivamente no nono, décimo e 11º lugar.
O país de
Vladimir Putin, vale lembrar, tem por hábito prender, multar ou envenenar
repórteres e comunicadores que fazem coberturas contrárias aos interesses do
governo.
A posição no ranking é calculada dividindo o número de casos
impunes pela população do país. Assim, o Brasil é considerado um país com maior
impunidade que a Índia, por exemplo, que deixou de punir 17 assassinatos na
última década, mas tem 1,3 bilhão de habitantes.
O levantamento, que contou casos de impunidade até 31 de agosto deste ano, é liderado pela Somália, com 26 assassinatos e 15 milhões de habitantes, pela Síria, com 22 casos e 17 milhões de habitantes, e pelo Iraque, com 21 casos e 39 milhões de habitantes, nessa ordem. Em comum, eles têm a instabilidade política e o envolvimento em guerras –que, segundo a ONG, “perpetuam o ciclo de violência e ilegalidade”.
No entanto, o CPJ alerta que os crimes violentos contra
jornalistas têm crescido em países considerados estáveis, mas assolados pela
“corrupção, instituições frágeis e falta de vontade política de promover
investigações expressivas”. Esses ataques vêm principalmente de grupos
criminosos, políticos, empresários e outros agentes em posições de poder.
Como exemplos, a organização cita o Paquistão, o México e as
Filipinas. Em 2020, a Justiça do Paquistão derrubou as sentenças de quatro
homens acusados de assassinar o repórter Daniel Pearl, do Wall Street Journal,
18 anos atrás. No México, a promotoria federal não tomou ações para esclarecer
os homicídios de jornalistas ocorridos na gestão de Andrés Manuel López
Obrador, no cargo desde dezembro de 2018.
Já as Filipinas tiveram melhora aparente, passando do quinto
lugar, no ano passado, ao sétimo. Isso se deve ao fato de que o massacre de
Ampatuan, em 2009 –no qual foram mortos 30 jornalistas– foi excluído do escopo
temporal do cálculo. Assim, o país foi passou a contabilizar 11 casos neste
ano, contra 41 em 2019.
Por outro lado, em dezembro do ano passado, o mandante do
crime, seu irmão e outros 26 cúmplices foram condenados e receberam penas de
até 40 anos, e a organização passou a classificar o caso como tendo “impunidade
parcial”, o que também o teria excluído do ranking.
O número total de jornalistas mortos em retaliação ao seu
trabalho em 2019 foi o mais baixo desde o início do levantamento, em 1992. O
CPJ avalia o recorde a um possível aumento na autocensura e no uso de outras
formas de intimidar repórteres, além da alta visibilidade de casos no ano
anterior –o que poderia desestimular futuros assassinatos. A entidade frisa que
não há razões para comemorar, uma vez que o número parcial de homicídios em 2020
já superou o total de 2019.
Nos últimos dez anos, ao todo, 277 jornalistas foram
assassinados em função de seu trabalho no mundo. Em 83% dos casos, não houve
punição concreta dos responsáveis. No período mais crítico, entre 2004 e 2013,
nove em cada dez assassinos saíram impunes.
Segundo a entidade, o assassinato mais recente de um
jornalista como retaliação no Brasil foi em junho de 2018. Jairo de Souza,
repórter da Rádio Pérola, em Bragança (PA), foi morto com dois tiros ao chegar
ao trabalho. Ele vinha investigando suspeitas de corrupção na prefeitura da
cidade.
O vereador Cesar Monteiro (PR) admitiu ser o mandante do
crime em novembro de 2018, após uma operação da polícia prender quatro suspeitos
de envolvimento no caso.
Em janeiro de 2019, promotores públicos acusaram 11 pessoas de participar no assassinato. Em março do mesmo ano, Monteiro foi solto após um pedido de habeas corpus. Ele voltou a ser preso em abril de 2020, de forma preventiva, mas ainda não foi condenado.
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