Projeção feita pelo pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz
Cláudio Maierovitch aponta que o Brasil poderá ter um aumento de 50% nos casos
de malária neste ano. Até março, o País registrou 50 mil infecções.
Pelos
cálculos do pesquisador, com base nos dados de janeiro e fevereiro, até o fim
do ano os registros poderão chegar a 293 mil. O avanço esperado é de proporção
semelhante à que foi identificada em 2017.
Depois de seis anos de queda, a malária voltou a aumentar no
País no ano passado e a preocupar autoridades sanitárias e especialistas.
"Estávamos em ritmo de declínio muito significativo. Mas a doença perdeu
prestígio político, as ações de prevenção foram deixadas de lado e os casos
voltaram a aumentar", afirmou o professor da Universidade de Brasília
(UnB) Pedro Tauil.
A retomada de crescimento da doença por dois anos
consecutivos ocorre pouco tempo depois de o Brasil comemorar o avanço no combate
à malária. "Em 2016, chegamos a alcançar 128 mil infecções, o menor número
da história", diz Maierovitch. Na época, avisos já haviam sido dados para
autoridades não baixarem a guarda. "Esse é um problema comum. Quando a
doença começa a cair, a atenção se dispersa."
Municípios
Secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde,
Osnei Okumoto atribuiu o aumento de casos nos últimos dois anos a falhas na
prevenção que deveria ser feita por municípios. Assim como Tauil, ele disse que
algumas cidades acabaram priorizando o combate ao Aedes aegypti, deixando em
segundo plano as medidas de contenção da doença, transmitida pela picada do
mosquito Anopheles infectado. Okumoto observa que o avanço foi mais expressivo
em 35 cidades da Amazônia Legal. "Juntas, elas respondem por 80% dos casos
atuais." O secretário ainda afastou qualquer relação do aumento com a
imigração de pessoas procedentes da Venezuela.
Com a retomada do avanço, fica ainda mais distante a meta de
se eliminar a transmissão de uma das formas da doença, provocada pelo
protozoário Plasmodium falciparum. Integrantes do comitê julgam essencial
controlar a malária no País o quanto antes, sobretudo diante da ameaça de que o
medicamento usado para tratar a doença se torne pouco eficaz. Na Ásia, o
plasmódio já desenvolveu resistência ao medicamento.
"O que desejávamos era evitar que isso ocorresse,
eliminar a transmissão no Brasil antes da chegada do protozoário resistente
" Okumoto reforça a preocupação. "Por enquanto, a medicação tem sido
eficaz. Mas o ideal é reduzir ao máximo o número de casos "
Uma das providências para evitar a expansão da doença é o
uso de mosquiteiros impregnados por inseticidas. A medida começou a ser usada
no País em 2011. Em um projeto piloto, 1,1 milhão de peças foram distribuídas
em municípios prioritários. Posteriormente, nenhuma outra compra centralizada
foi realizada. Okamoto afirmou que recursos foram repassados para que Estados e
municípios fizessem a operação.
Outra recomendação é reforçar o diagnóstico rápido e o
tratamento precoce. "Isso evita o ciclo. Se há poucas pessoas doentes,
menor o risco de o mosquito se contaminar e, com picadas, transmitir a
doença", afirma o secretário. * OUL
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