Reflexo do aumento da criminalidade no estado, o roubo de
cargas teve crescimento de 105% em seis anos na Bahia e tem obrigado empresas a
destinar até mais de 5% do orçamento anual com segurança.
O ritmo segue
crescente desde 2011, quando foram registrados 215 casos, chegando a mais que o
dobro em 2016, com 441 roubos. Os dados de 2017 ainda não foram concluídos,
informou a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA).
Como consequência desses crimes, cresceu também o prejuízo
das empresas baianas, de mais de R$ 13,4 milhões em 2011 para R$ 27,6 milhões
em 2016 (aumento de 105%), aponta uma pesquisa nacional da Federação das
Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), divulgada ano passado.
Segundo autoridades policiais, o roubo de cargas na Bahia
acorre nas rodovias estaduais, federais e ainda dentro das cidades, e todos os
casos (inclusive os que ocorrem nas rodovias) são registrados na Polícia Civil.
O delegado titular da Delegacia de Repressão a Furtos e
Roubos de Cargas em Rodovias (Decarga), Gustavo Coutinho, informou que no
estado a rodovia mais visada pelos criminosos é a BR-116 Sul, que vai de Feira
de Santana à divisa com Minas Gerais. “As cargas mais visadas são as
perecíveis, que podem ser vendidas mais rápido, geralmente elas são repassadas
a mercadinhos, os principais receptadores. Outras cargas, como eletrônicos, são
vendidas em outros estados”, informou Coutinho.
O delegado da Decarga, que fica centralizada em Feira de
Santana, onde está o maior entroncamento de rodovias do Norte e Nordeste, com
as BRs 101, 116 e 324, disse que em 60% dos casos de roubo de carga registrados
na Bahia há participação dos motoristas de caminhões. “Eles simulam o roubo ou
o tombamento. No caso do tombamento, chegam a tirar antes até 80% da carga e
depois registram na polícia a queixa de saque como se tivesse com a carga
completa”, afirma o policial.
No dia 5 deste mês, Coutinho apreendeu uma carga de queijos
avaliada em cerca de R$ 240 mil reais. Ao todo 17 toneladas do produto foram
devolvidas à empresa seguradora. O caminhão saiu de Goiás com destino a um
atacadão em Salvador, tendo sido atacado por 12 pessoas às margens da BR-242,
em Itaberaba. O grupo transferiu o motorista para um veículo pequeno e levou o
caminhão na direção contrária, mas foi rastreado pela seguradora.
“Fomos acionados e iniciamos uma operação para recuperar os
bens da empresa de laticínios Centro-Oeste”, afirmou o policial. Para tentar despistar
o trabalho da polícia, os bandidos quebraram o rastreador.
A carga foi encontrada, na BR-116, próximo ao município de
Nova Itarana, mas os criminosos conseguiram escapar ao cerco. Informações sobre
eles podem ser repassadas à polícia pelo Disque Denúncia 3235-000 (capital e
Região Metropolitana de Salvador) e 181 (interior do estado).
Mais perigosas
A BR-242 está entre as mais perigosas estradas federais para
esse tipo de crime, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), que coloca na
lista ainda as BRs 324, 101 e 116. Relatório feito pela PRF a partir das
ocorrências nessas rodovias e enviado ao Ministério Público da Bahia (MP-BA),
reforçado com investigações posteriores do Grupo de Atuação Especial de Combate
às Organizações Criminosas e Investigações Criminais (Gaeco), da SSP-BA,
resultaram numa operação que prendeu 21 pessoas em junho do ano passado.
Os criminosos (entre mandantes, receptadores, facilitadores
e executores dos crimes) foram localizados em Salvador, Lauro de Freitas,
Alagoinhas, Vitória da Conquista, Feira de Santana, Valinhos (SP) e nas
mineiras Uberlândia e Uberaba. Entre os itens roubados pelas quadrilhas estavam
cerveja, material de limpeza, papel A4, alimentos, medicamentos, entre outras
mercadorias de fácil negociação. A estimativa é que os envolvidos tenham
movimentado cerca de R$ 4 milhões em produtos roubados.
As equipes realizaram ainda buscas em estabelecimentos
comerciais que faziam a receptação dos objetos roubados e em galpões onde as
cargas eram armazenadas e distribuídas posteriormente. Em três dos seis
mercadinhos fiscalizados, foram encontrados produtos roubados, e nos outros
três havia grande quantia em dinheiro, que foi apreendida. Já em dois dos seis
galpões visitados, era armazenado grande volume de produtos roubados. Na
operação foram apreendidos ainda um automóvel e um caminhão.
“Nós, empresários que atuamos dentro da lei, pagamos vários
impostos, temos de concorrer com empresas de fora que recebem subsídios de seus
estados e praticam uma concorrência forte dentro da Bahia. E ainda temos de
encarar essa realidade do roubo de carga, que prejudica muito o nosso
trabalho”, comentou o presidente da Associação dos Distribuidores e Atacadistas
da Bahia (Asdab), Antônio Alves Cabral Filho.
O problema, informa o presidente da entidade que reúne mais
de 600 associados no Estado, tem feito com que empresas gastem mais de 5% do orçamento
anual com seguranças.
As empresas usam equipamentos pequenos e discretos, de fácil
ocultação, para rastrear e monitorar cargas. As iscas podem ser acondicionadas
dentro de caixas, bagagens e embalagens em geral.
“Além disso, buscamos não rodar depois das 21h e sempre que
possível em comboio”, disse Cabral Filho, segundo o qual outro problema das
empresas é para fechar contrato com as seguradoras: “Com esses casos de roubos,
elas estão ficando cada vez mais exigentes, cobrando mais caro, e o empresário
tendo prejuízo”.
Crime atualizado
Ana Cardoso, gerente de vendas de uma empresa que
comercializa equipamentos de segurança para prevenção a roubo de cargas, diz
que “criminosos também tem utilizado novos métodos para burlar os sistemas de
segurança, o que exige constante atualização nesse ramo.”
“Novas tecnologias estão sendo implementadas para aumentar o
índice de recuperação de veículos e cargas, hoje superior a 90% aqui na
Pósitron, e vão desde melhorias nos equipamentos, até atuadores em casos de
sinistro, com redundância de tecnologias em rádio frequência, inteligência
embarcada nos dispositivos, novas versões de firmware, placas e circuitos
eletrônicos”, declarou.
A PRF informou que realiza na Bahia fiscalizações voltadas
ao roubo de cargas, com patrulhamento ostensivo em dias, horários e regiões
onde mais ocorre tal delito e operações com o fim específico de coibir esse
crime. “O intuito desse trabalho é alocar servidores especializados no combate
ao crime nos pontos vulneráveis”, diz um comunicado oficial.
A quantidade de pontos vulneráveis, informa a nota, é a
maior dificuldade da PRF no combate a esses crimes: “São inúmeros postos de
combustíveis em que o crime pode acontecer, e ainda milhares de quilômetros de
rodovia. Além disso, a quantidade de rotas de fuga é expressiva.”
Para tentar minimizar os riscos, a PRF sugere que os
motoristas evitem parar em postos sem iluminação, desconhecidos ou que não
ofereçam condições mínimas de segurança. Em caso de atitude suspeita, vale
entrar em contato com a PRF por meio do número 191. Automóveis que transitam
atrás de veículos de carga sem ultrapassá-los, mesmo quando a sinalização e o
fluxo permitem, são um indicativo de comportamento suspeito. * Correio
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