A pouco mais de um ano das eleições para a Presidência, os
governos estaduais e o Congresso Nacional, os brasileiros manifestam rejeição
generalizada à classe política, independentemente de partidos, e ao atual
modelo de governo.
Segundo pesquisa do instituto Ipsos, apenas 6% dos eleitores
se sentem representados pelos políticos em quem já votaram.
Desde novembro do ano passado, houve queda de nove pontos
percentuais na taxa dos que se consideram representados. A onda de negativismo
contamina a percepção sobre a própria democracia.
Passados pouco mais de um ano das manifestações de massa que
culminaram no fim do Governo Dilma Rousseff (PT), nada mais do que 81% dos
entrevistados pelo Ipsos manifestaram concordância com a afirmação de que
"o problema do País não é o partido A ou B, mas o sistema político".
Para 94%, os políticos que estão no poder não representam a
sociedade. Apenas 4% acham o contrário. Quem está na oposição também é alvo de
desconfiança. Quando a pergunta é sobre os políticos em que a população já
votou em algum momento, 86% dizem não se sentir representados.
Distância
"Segundo a opinião pública, os eleitos não representam
os eleitores", observa Rupak Patitunda, um dos responsáveis pelo
levantamento.
Somente um em cada dez cidadãos veem o Brasil como um país
onde a democracia é respeitada. Tal percepção de desrespeito às normas
democráticas pode estar relacionada à ideia de desigualdade.
Para 96% dos entrevistados, todos devem ser iguais perante a
lei, mas somente 15% consideram que essa regra é devidamente observada no
Brasil.
É quase consensual a noção de que a corrupção é um entrave
para que o País alcance um nível mais avançado de desenvolvimento. Nove em cada
dez eleitores concordam com as avaliações de que "o Brasil tem riquezas
suficientes para ser um país de primeiro mundo", de que "o Brasil
poderia ser um país de primeiro mundo se não fosse a ação da corrupção" e
de que "o Brasil ainda pode ser um país de primeiro mundo quando acabar
com a corrupção".
Os dados do Ipsos mostram que, após um ciclo de acirramento
da polarização política no País, há uma ânsia por iniciativas de conciliação.
Nada mais do que 88% dos entrevistados concordam com a afirmação de que
"as pessoas deveriam se unir em torno das causas comuns" e "não
brigar por partido A ou B". Parcela similar considera que "brigar por
partido A ou B faz com que as pessoas não discutam os reais problemas do
Brasil".
Radicalismo
A combinação de desencanto com a democracia e rejeição aos
políticos pode abrir espaço para radicalismos ou líderes autoritários na
eleição de 2018? Para Rupak Patitunda, um dos responsáveis pela pesquisa do
Ipsos, a resposta é sim. Mas o próprio levantamento indica que a população não
espera que seus problemas sejam resolvidos por um regime de força.
"Testamos três frases na pesquisa, e cada uma indicaria
uma solução institucional". A primeira é "colocar no poder líderes
fortes para instituir a ordem, que seria a solução pelo Executivo".
A segunda frase, "criar regras firmes contra políticos
corruptos", significaria uma solução legislativa. A terceira,
"aplicar efetivamente as regras já existentes contra corrupção",
significaria uma solução de fiscalização. "Dentre todas a solução mais
apontada não vem do Executivo, mas da criação de mecanismos legais".
Um ponto positivo da pesquisa é o fato de ser minoritária a
parcela da população que concorda com frases como 'o que realmente vale são
políticos e partidos que roubam, mas fazem" (22%) e "a corrupção no
Brasil é culpa do povo, que elege políticos corruptos" (44%).
"Por outro lado, ‘eu acredito que é possível governar
sem corrupção’ recebeu 84%. O brasileiro ainda tem esperança quanto ao
problema", conclui Patitunda.
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