Fator-chave para muitos casos de infarto e de embolia
pulmonar, a trombose é uma doença evitável se um estilo de vida saudável for
adotado. Para alertar sobre os cuidados necessários desta doença que afeta
sobretudo mulheres que usam pílula anticoncepcional e idosos, hoje, 13 de
outubro, é comemorado o Dia Mundial da Trombose.
A data foi criada em 2014 pela Sociedade Internacional de
Trombose e Hemostase (ISTH, na sigla em inglês), que divulga informações sobre
a doença caracterizada por obstruir uma ou mais veias da perna ou da coxa
devido à formação de um coágulo de sangue (aglomeração de células sanguíneas).
Para entender a enfermidade, tente visualizar as veias como
o encanamento do organismo, por onde o sangue viaja pelo corpo. Quando esses
canos são danificados internamente, o corpo envia seus 'soldados' de
reconstrução (leucócitos, glóbulos vermelhos e plaquetas) para levarem
nutrientes e cicatrizar a região.
A trombose pode afetar qualquer membro do corpo, mas cerca
de 90% dos casos ocorrem nas veias das pernas e coxas, conforme a Sociedade
Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV). Por conta disso, os
sintomas mais comuns são nessas áreas. As reclamações mais comuns são dor ao
caminhar, inchaço, coceira, dormência, varizes e mudança na coloração da pele,
geralmente para azul ou roxo.
Por si só, os desconfortos da trombose já são uma dor de
cabeça. Mas o problema maior são os perigos decorrentes. A doença está por
detrás de muitos casos de ataque cardíaco, infarto tromboembólico e
tromboembolismo venoso, as três principais causas de morte por coração,
conforme a Sociedade Internacional de Trombose e Hemostase (ISTH, na sigla em
inglês).
A consequência mais temida, no entanto, é a embolia
pulmonar, quando o coágulo se descola da veia da perna ou da coxa e viaja pela
corrente sanguínea até chegar ao pulmão, o que causa tosses, dor torácica e dificuldade
em respirar. Na prática, as veias do pulmão passam a ficar congestionadas em
função do obstáculo e não conseguem fazer as trocas gasosas necessárias no
sangue (tirar gás carbônico e colocar oxigênio).
Com o passar das horas, a embolia pode ser fatal, tanto
porque o sangue não é oxigenado (o que causa morte súbita), quanto pela
sobrecarga do coração, uma vez que a pressão arterial aumenta na tentativa de
forçar o sangue a ultrapassar o coágulo para chegar ao pulmão. “Esse processo
pode ocorrer em menos de uma semana após o surgimento da trombose. Por isso,
internamos o paciente na UTI o mais rápido possível”, explica Aline Lamaita,
cirurgiã vascular do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.
Faltam dados acerca da incidência da doença na população
brasileira. Nos Estados Unidos, cerca de 900 mil pessoas têm trombose a cada
ano - destas, 100 mil devem morrer por alguma complicação, segundo a Sociedade
Internacional de Trombose e Hemostase.
Tratamento. O diagnóstico de trombose é clínico e com um
exame que detecta a presença do coágulo de forma semelhante ao funcionamento do
ultrassom. A partir daí, o tempo para curar a doença é longo, de três a 12
meses. O intervalo é necessário para desfazer o trombo da perna sem que ele se
desligue da veia da perna ou coxa e chegue ao pulmão - isto é, sem que a embolia
pulmonar seja provocada.
“Cirurgias abertas praticamente não são mais realizadas”,
explica Viviane Macedo, angiologista e cirurgiã vascular do Hospital
Universitário de Brasília. No lugar, alguns tratamentos entram em cena: uso de
anticoagulante, aplicação de cateter e uso de meias elástica de pressão.
O anticoagulante é um remédio, usado como pílula ou injeção,
que estimula a produção de substâncias que afinam o sangue e impedem o aumento
do coágulo. É que, ao ficar mais líquido, o sangue se desloca mais fácil pelo
organismo e fica menos acumulado na perna ou na coxa. No entanto, a ação desse
medicamento é sistêmica, no corpo inteiro - isto é, qualquer região vai
'sangrar mais' se uma ferida for aberta, então há contraindicação para
pacientes que vão realizar cirurgia ou quem já tem predisposição a sangramento,
por exemplo.
A saída é o cateter, que é colocado dentro da veia para
liberar aos poucos uma substância também anticoagulante. Por ser aplicado
diretamente na região afetada, a ação é local. Por fim, a meia-calça elástica
também é uma saída. Ela não é como as usadas no dia a dia: para tratar a
trombose, o acessório tem uma pressão maior no tornozelo que diminui à medida
em que sobe na perna. Como resultado, o sangue corre mais rápido pelas veias.
Grupos de risco. Quem mais sofre com a doença são mulheres
que tomam anticoncepcional ou em tratamento hormonal, grávidas, puérperas,
fumantes, pessoas com varizes, pacientes com insuficiência cardíaca, tumores
malignos, obesidade ou histórico de trombose, segundo a Sociedade Brasileira de
Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).
É que a enfermidade é causada por fatores conhecidos como a
'tríade de Virchow': lesão na parede interna da veia, redução da velocidade do
fluxo sanguíneo e tendência a ter o sangue coagulado (ou espesso).
Uma série de condições pode influenciar um desses três
quesitos: ter varizes (parte das veias fica danificada, o que deixa o sangue
mais lento), ter mais de 40 anos (o tônus muscular é menor, o que influencia o
funcionamento das veias), ficar imóvel por muito tempo, ter tendência a
coagular o sangue, realizar cirurgias ou ter sofrido um acidente que machucou a
parede interna das veias, tabagismo, alguns tipos de câncer e quimioterapia
(aumentam a coagulação), obesidade (excesso de peso exerce mais pressão nas
veias, o que dificulta a passagem do sangue), ter insuficiência cardíaca
(coração fraco bombeia menos o sangue, o que diminui sua velocidade), entre
outras. Mas o pior de todos os fatores e ter histórico de trombose ou de
embolia pulmonar.
“Por mais que o vaso seja desentupido, dificilmente ele
volta a ser como era. Por isso, todo paciente que já teve trombose tem maior
chance de ter novo quadro. Alguns usam anticoagulante para o resto da vida”,
diz a médica cirurgiã vascular Aline Lamaita, cirurgiã vascular do Hospital
Albert Einstein.
Prevenção. Evitar a trombose é adotar cuidados para que a
perna não fique muito tempo parada e para que o sangue não se torne espesso.
Entre elas, movimentar as pernas durante viagens prolongadas de avião, carro ou
ônibus, não fumar, beber bastante água para não deixar o sangue 'grosso' e
fazer exercícios físicos para fortalecer a batata da perna (considerada o
coração da parte inferior do corpo, porque impulsiona o sangue na região).
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