Após ter desistido na última semana de inaugurar o Aeroporto
Glauber Rocha, em Vitória da Conquista, ao lado do presidente da República Jair
Bolsonaro (PSL), o governador da Bahia, Rui Costa (PT), pousou pela primeira
vez na pista, na manhã desta quinta-feira, 1.º, e criticou o chefe do Palácio
do Planalto, insinuando que ele “não tem trabalho para apresentar”, além de
acusar o governo federal de “dar calote” no Estado em obras que estão em
andamento.
Em um discurso para plateia de apoiadores e
correligionários, Costa afirmou que o “calote” soma uma dívida de R$ 520
milhões. “São obras que eles desejavam que eu parasse por falta de pagamento”,
disse.
“Mas eles não sabem ou esqueceram que o governador nasceu na favela, em
um bairro chamado de Liberdade, e que meus ombros e minhas costas são curtidas
e amadurecidos pela vida. Então, se eles acham que vão maltratar o povo da
Bahia, dando calote no Estado para eu parar as obras, eles estão enganados”,
discursou.
De acordo com a Secretaria de Comunicação do governo da
Bahia, dos R$ 520 milhões citados pelo governador no montante do “calote”
alegado por ele, R$ 237 milhões são referentes aos corredores transversais de
transporte coletivo (linhas azul e vermelha), R$ 132 milhões dizem respeito às
obras do metrô Salvador-Lauro de Freitas e o restante está dividido em obras de
contenção de encostas e intervenções na área de saúde. O governo prometeu
detalhar as obras de encostas e da saúde com seus devidos valores e enviar para
a reportagem, mas não o fez até a publicação deste texto.
Procurada, a
Secretaria Especial de Comunicação da Presidência da República disse que não se
manifestaria a respeito das declarações do governador Rui Costa.
A viagem do petista tinha o objetivo de inaugurar a
Policlínica Regional de Saúde, mas ganhou explícito teor de ato político diante
do esquema montado e da quantidade de apoiadores, que lotaram a frente do
aeroporto uma semana após Bolsonaro passar por lá.
Um grupo expressivo de prefeitos da região e de deputados
federais e estaduais da base política do governador, além de secretários das
principais pastas do seu governo, aguardavam a chegada de Rui Costa.
O governador fez questão de transitar na área comum do
aeroporto, até chegar à porta de saída do equipamento público, onde encontrou o
grupo que o recepcionou. “Todos que não têm trabalho próprio para apresentar
prefere falar dos outros”, afirmou Costa, logo após a chegada, ao ser
questionado por jornalistas sobre a polêmica com Bolsonaro e com aliados locais
envolvendo o aeroporto.
Ele definiu a situação como “disse-me-disse da política” e
alfinetou Bolsonaro, sem citar o presidente nominalmente, ao dizer que “tem
pessoas que nasceram com vocação de trabalhar e tem pessoas que nasceram com
vocação de falar”.
“Eu prefiro ao invés de falar das polêmicas falar o
trabalho. Como tenho muita coisa para falar de trabalho, vou economizar tempo”,
disse o governador da Bahia, que voltou a se referir ao governo federal e a
Bolsonaro diversas vezes durante seu discurso.
Em um momento, disse que “tem gente que todos os dias no
Brasil só faz ofender o povo das regiões, dos Estados” e que gostaria de ter
visto o povo participando da inauguração do Aeroporto Glauber Rocha. Depois,
endureceu o discurso ao citar o forte esquema de segurança usado pelo presidente
da República na ocasião.
Aliado de Bolsonaro,
prefeito de Vitória da Conquista não comparece a evento
O prefeito de Vitória da Conquista, Herzem Gusmão (MDB),
aliado do presidente nacional do DEM e prefeito de Salvador, ACM Neto,
principal adversário político de Costa e alinhado nacionalmente a Bolsonaro,
não apareceu ao evento de inauguração da policlínica.
“Esse daí não precisa de PM (Polícia Militar)”, gritou um
dos correligionários no meio da multidão, em certo momento da chegada, que
aconteceu por volta de 10h. Na sequência, Costa entrou em um ônibus e seguiu
para a agenda oficial.
A frase trata-se de uma provocação ao presidente Bolsonaro,
que reclamou publicamente porque, durante a inauguração oficial do Aeroporto
Glauber Rocha, o governador baiano não enviou efetivos da Polícia Militar para
fazer a segurança da comitiva presidencial.
Em resposta, o petista afirmou que “quem tem governo
impopular não deve sair de casa” e chamou a inauguração do aeroporto de
“palanque político-partidário”, além de afirmar que desistiu de participar
porque não teve convites suficientes para seus correligionários.
Também pesou na desistência, à época, a declaração de
Bolsonaro chamando os governadores do Nordeste de “paraíbas”, utilizando termo
pejorativo comumente usado no Rio de Janeiro para referir-se à população
nordestina.
*Yuri Silva, especial para o Estado
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