No país do futebol, partidos são como clubes, candidatos
fazem as vezes de jogadores e as doações que recebem nada mais são do que o seu
valor de passe.
Foi exatamente assim que a Odebrecht classificou os
beneficiários de suas contribuições, de caixa um e dois, na eleição de 2014 na
Bahia.
O "meia" (leia-se candidato a governador) Rui
Costa (PT), era batizado de "Flamengo" (PT) e valia
"2.000", conforma a planilha entregue à Operação Lava Jato. O
documento não especifica a unidade de valor apontado.
A engenhoca clandestina da empreiteira servia para driblar não
apenas a legislação, mas também os próprios candidatos. Em seus depoimentos,
vários delatores da Odebrecht afirmaram aos procuradores que o caixa dois
também era útil para evitar a ciumeira.
"Nós tomávamos o cuidado de não dar muito para um
partido em detrimento de outro de forma lícita. Se um partido tinha direito a
um valor maior, ia de forma ilícita", disse Luiz Eduardo da Rocha Soares,
gestor entre outras da planilha futebolística.
Ele disse que controlava tanto os pagamentos lícitos, que
saíam da tesouraria corporativa da empresa, como os ilícitos, para os quais era
acionado o Setor de Operações Estruturadas, vulgo departamento de propina.
Segundo Soares, as planilhas misturavam caixa um e caixa
dois. Primeiro eram determinados os valores cabíveis a cada candidato. "A
decisão se era lícita ou não era posterior", afirmou.
"Nós não gostávamos de fazer muitos pagamentos lícitos,
porque chamava muita atenção. Se a gente fosse pagar tudo de forma lícita daria
US$ 100 milhões de doação eleitoral da Odebrecht."
Vistas do ponto de vista sociológico, as planilhas da
Odebrecht mostram que a cultura militar do Brasil com o tempo vai ficando para
trás. De acordo com a delação de Soares, inicialmente os candidatos eram
classificados seguindo a hierarquia do Exército. "Capitão era presidente,
tenente era governador, sargento era deputado federal e cabo, estadual." *Bocão
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